quarta-feira, 12 de novembro de 2008

SINGULARIDADADES DE UMA RAPARIGA LOIRA


SINGULARIDADADES DE UMA RAPARIGA LOIRA



O meu nome é Francisco e sou proprietário de armazém de panos na baixa de Lisboa Vou contar como aconteceu a história de amor entre o meu sobrinho Macário e a jovem senhora do leque chinês.


Macário começou por trabalhar no meu estabelecimento como caixeiro. Mas como era trabalhador e honesto, vendo as suas capacidades para a aritmética achei que podia depositar nele a minha confiança. Resolvi entregar-lhe as contas do meu negócio e passou a trabalhar como meu guarda-livros. Apesar de ser jovem Macário pouco saía de casa apenas vivia para o trabalho. Até ao dia em o meu sobrinho despertou para a vida e para o amor. Através da janela do seu quarto que também fazia de escritório, descobre que há uma janela que ao abrir-se, aparece uma bela e jovem senhora e Macário fica deslumbrado. É claro que esta descoberta deixa o meu sobrinho abalado, sonhador, e então o trabalho já não é prioridade para ele, pois passa muito tempo a olhar a janela na esperança de voltar a ver aquela linda senhora. Ela por sua vez também percebeu a presença de Macário e aparece à janela com todo o seu encanto a abanar-se com o seu leque chinês.


Os dias passam e continuam os dois a olharem-se apenas de janela a janela, até ao dia em que a jovem aparece no meu armazém com a senhora sua mãe mas apenas com a desculpa de verem tecidos e outros artigos. Macário desceu imediatamente e foi ao seu encontro. Pôde ver de perto aquela jovem por quem ele já estava completamente apaixonado, verificou então que a sua beleza era ainda maior. Eu quando o vi junto do balcão disse-lhe que não ficava bem um guarda-livros estar a vender ao balcão e ele retirou-se. A senhora mais velha pede para ver lenços da Índia, o caixeiro traz um pacote e depois verifiquei a falta de um pacote de lenços da Índia.


Macário está tão apaixonado que já não é o mesmo homem preocupado só com o trabalho e um dia vem falar comigo. Contou-me sobre a sua intenção de casar com a jovem senhora D. Luísa. É claro que eu respondi que não concordava com esse casamento e que se ele insistisse não trabalharia mais para mim. Macário sem perceber o porquê da minha atitude fica aborrecido e quer saber o porquê da minha discordância mas eu apenas disse que não estava de acordo. Então Macário resolve seguir a sua vontade e sai de minha casa.


Sei que passou algumas privações pois apesar de ser um bom e honesto trabalhador teve muitas dificuldades em conseguir emprego, pois todos as portas se lhe fechavam porque sendo meu sobrinho ninguém se arriscava a dar trabalho a Macário.


Apesar disso o meu sobrinho continua apaixonado e resolve pedir a menina Luísa em casamento o qual ficou marcado para daí a um ano. Um dia, tempos depois, Macário fez questão de lhe oferecer um anel e entraram numa ourivesaria na rua do Ouro e pediu ao empregado para ver anéis. O empregado mostrou-lhes muitos, Luísa escolheu um anel de ouro com pequenas pérolas, mas ao pô-lo no seu fino dedo este ficava-lhe muito grande, então o empregado disse que se podia apertar se realmente o escolhesse e que no dia seguinte estaria pronto.


Quando vão a sair da ourivesaria o empregado pergunta que se não vai pagar o anel, o meu sobrinho responde que o pagará depois quando o vier levantar. O empregado diz-lhe que não é esse mas sim o que a senhora guardou. Macário como homem de bem pede desculpa, paga o anel, saem da loja e sem dizer mais nada, já na rua apenas a manda embora dizendo-lhe baixinho para ninguém ouvir “És uma ladra não te quero ver mais!”


Macário, recordando a minha má vontade para com essa senhora, percebe então porque não concordei com o seu casamento. Ferido no seu orgulho reconhece que a sua escolha não foi acertada, põe ponto final nesta história que parecia ser uma linda história de amor, refugiou-se no Minho e não voltou mais a Lisboa.




MARIA DE JESUS PEREIRA
C.L.C U.C 7 Novembro de 2008

Sem comentários: